Monday, December 04, 2006
 
CASSIUS
A TENTATIVA DE REVIVER OS 15?
O tempo é desde á muito uma verdadeira preocupação para a humanidade: Datar objectos, calendarizar situações. O homem aprendeu a viver obcecado com os anos de pessoas e objectos, com as idades de todas as civilizações, com eras de ouro, com épocas de desenvolvimento e prosperidade. E desde sempre tem procurado a fonte da juventude numa tentativa, ora recorrendo à ciência ou ao oculto, de viver para a eternidade.
É essencial o entendimento do tempo no espaço que nos rodeia e a forma como nos deslocamos, disso depende a evolução. Mas quando as ideias se confundem e constantemente recorremos à tacanhez que obriga o reconhecimento do passado em detrimento das evoluções incompreendidas do presente, algo está errado. E tentar viver no passado não será certamente a solução. É meritório reconhecer que o presente em tudo deve ao passado e o que somos hoje deve-se a acções de outrora. Elogiar o passado e dele extrair sabedoria não é crime, antes pelo contrário é salutar. Já será pecado ignorar as maravilhas da era tecnológica e não atribuir-lhe o valor ou papel que terão no futuro.
A música tem vindo a viver desse dilema que encalha muita gente no passado e que se esquece da necessidade de evoluir, de atingir novos patamares. Será bom recordar que a evolução não está, nem poderia estar, ao virar de cada esquina. Muito menos pressionar ou obrigar todos os músicos a inventar paradigmas a cada álbum. Mas um pequeno esforço criativo não prejudica ninguém! A verdade é que a industria pop do presente, e talvez sempre tenha sido assim, vive da novidade. Há uma necessidade de renovação constante que não permite a digestão correcta de todos os elementos. Será o tempo inimigo da arte? Em muitas ocasiões precipitadas, sim! E não se vislumbra solução para este problema nos próximos tempos.
A correria é tão grande que muitos músicos aprenderam as primeiras notas com uma idade, formaram uma banda com outra, assinaram contractos na idade madura e fizeram carreira da melhor maneira possível. E na verdade, cada passo que deram em frente a conjectura ou preparava-se para mudar, ou já uma série de factos encontravam-se consumados. O tempo não pára, ou encontramos o nosso lugar ou então arriscamo-nos a tropeçarem sempre que um novo juízo é formado. Sempre que uma nova moda dita o rumo a tomar no futuro.
Na música produzida presentemente é impossível não encontrarmos marcas do passado. É inevitável. Mas a obsessão que forma os revivalismos apenas revela que muitos desistiram de tentar ou simplesmente decidiram hibernar e esperar pela próxima evolução. Será agora o caso dos franceses Cassius, que resolveram reviver os tempos rebeldes da juventude? O título denuncia tudo!
O trajecto de Bombass e Zdar é bem conhecido. Depois dos La Funk Mob, e aventura pelos sons abstractos do hip-hop, o duo iniciou actividades oficialmente como Cassius com a edição de «1999» em plena era de florescimento french touch, tendo sido conotados com o movimento um pouco contra a sua vontade. Daí em diante não se pouparam a esforços para desviarem-se do rótulo que agora tornou-se maldito. Ao terceiro álbum confirmam algumas ideias iniciadas em «Au Rêve» e empenham-se por completo na exploração dos sons pop, electro e house de 80, tendo daí extraído a energia e a matéria-prima para a sua nova música. Sinceramente, depois de «Sexor» de Tiga, começa a não haver muito mais espaço – não contando a paciência – para as pouco abastardas investidas nos revivalismos relacionados com a década de 80.
«15 Again» vive da atitude algo rebelde do punk de Zdar e por um breve instante quase nos convence dos seus intentos. Depois de mais algumas escutas concluímos que num alinhamento de 12 temas apenas metade tem história para contar. E dessa metade três temas têm alguma substância. Não exigíamos com a transformação uma viragem tão acentuada que pudesse por em risco a própria identidade de um projecto – que nasceu para as pistas de dança e que agora produz canções com algum apelo radiofónico. Haverá momentos de agrado perante um “La Notte” ou “Jackrock” – o único e verdadeiro instante onde rompe um acid-house capaz de catapultar os cépticos para o centro da pista. Mas na maioria encontramos golpes inócuos como “Rock Number One” ou “15 Again” ou ímpetos que suscitaram muito pouca empatia. Mas há um momento em particular que não lembra ao diabo como a indescritível aberração chamada “Eye Water” onde colabora o pouco inspirado Pharrell Williams. Em termos de avaliação global, não há mais nada que possa entusiasmar ou algo mais a acrescentar a toda a história electroclash (e companhia) já contada até ao momento. Talvez este «15 Again» venha tarde em relação aos movimentos revivalistas de 80 que, felizmente, começam a dissipar-se.
A idade da dupla deveria proporcionar-lhes mais coerência a nível estético e alguma contenção na viragem. Mas a tentação de reviver a juventude dos 15 talvez lhes tenha toldado o juízo e precipitado algumas ideias inconsequentes para brincadeiras completamente desajustadas. A rectidão de uma imagem – no qual envolvem a sua sonoridade – cultivada certamente com o objectivo de atribuir credibilidade a uma música, cada vez mais pensada no palco em vez da discoteca, não chega para compensar a descaracterização de todo o projecto.
PUBLICADO ORIGINALMENTE NO BODYSPACE
 
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    Friedrich Nietzsche In Nietzsche Contra Wagner.


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