BUGZ IN THE ATTICO INÍCIO OU O FIM DA PARÓDIA?Os Bugz, á semelhança dos Jazzanova, construíram a sua reputação muito em consequência das remisturas que realizaram para terceiros. Macy Gray, Amy Winehouse, Zero 7 e Nitin Sawhney foram algumas das "vítimas" que serviram de inspiração ao colectivo londrino e onde, acima de tudo, o super-grupo desenvolveu uma estética sonora muito própria. Sim, porque de um super grupo se trata. Um projecto que edita finalmente o o muito prometido álbum de estreia, mesmo com todos os riscos que isso acarreta depois de um passado muito promissor.
Juntos no mesmo estúdio, a criar, a produzir e, no fundo, a divertirem-se, Orin Walters, Paul Dolby, Kaidi Tatham, Daz-I-Kue, Alex Phountzi, Cliff Scott, Mark Force e Matt Lord, não contando com os convidados, têm concebido de à uns dez anos para cá uma sonoridade onde a confluência de tipologias como o funk, a soul e o afro, tem trazido alguma frescura criativa à música de negra com origem britânica.
Com a alma e coração empenhados na sua música, todos os nomes envolvidos nesta operação constituem o verdadeiro núcleo duro do broken beat do oeste de Londres: Orin, Alex e Kaidi deram o chuto inicial e editaram em 1999 o fundamental –-e ainda actual-– «The Future Ain’t The Same as It Use 2 Be» como Neon Fusion. Tratava-se do primeiro registo broken beat em formato de longa duração onde a confluência de géneros tomavam forma concreta, consistente, onde as experiências sincopadas eram desenvolvidas em laboratório e de seguida apresentadas ao mundo --sem receio de serem tomados por loucos. A aventura compensou e inspirou outros a seguirem o mesmo rumo. Foi o caso de I.G. Culture, que em 2001 editou outra peça essencial: «Download This», o verdadeiro manifesto broken beat erguido pelos New Sector Movements.
O género ganhou visibilidade e não faltaram oportunidades de acrescentar mais umas ideias, explorar e mesmo expandir as fronteiras do nu-jazz. Orin Walters criou e editou como Afronaught, Paul Dolby é o nome por de trás de Seiji, Kaidi Tatham, além do muito trabalho que teve a produzir para outros, é o nome que deu forma a projectos como os Modaji, Agent K ou os Silhouette Brown. Daz-I-Kue dedicou muito do seu tempo ás remisturas. Os restantes, com menos visibilidade, deram muito da sua arte ao ofício da produção.
Outros nomes essenciais farão parte da equação broken beat como os Two Banks of Four, Numbers, os 4Hero, Mark de Clive-Lowe, Jazztronik ou os Beatless, ou editoras como Main Squeeze ou Laws of Motion, mas é no colectivo Bugz In The Attic que encontramos os principais nomes relacionados com a génese e o desenvolvimento do género. Alias, de momento, os Bugz são os únicos que na verdade dão continuidade ao broken beat numa era onde os focos de luz deixaram de incidir sobre ele. Dai os próprios agora afastarem-se ligeiramente das excessividades sincopadas que os caracterizava à uns anos atrás e apresentarem-se com uma sonoridade mais clara e ligeira.
«Back In The Doghouse» tanto pode ser o início como ser o fim. Tanto poderá ser uma porta aberta que encaminhará os Bugz para outros níveis de criação, um pouco à semelhança da opção estética optada no segundo álbum de originais dos New Sector Movements, ou ser o culminar de uma era de ouro do broken beat, onde os alicerces lançados pelos Neon Fusion á seis anos atrás deixaram de fazer o mesmo sentido. Mas a resposta só poderá ser dada com o tempo, que se encarregará de dar um sentido específico e talvez um futuro.
A situação de «Back In The Doghouse» acaba por não ser muito diferente de «In Between» dos Jazzanova. Ambos os projectos foram popularizados pela linguagem única e de autor que imprimiram na obra de outros, daí a edição de um álbum de originais depois de uma primeira apresentação em longa duração de uma antologia de remisturas («Got The Bug» de 2004), traga algumas dúvidas sobre as obras assinadas em nome próprio. Não que as remisturas tenham esgotado a veia criativa, mas foram elas que deram forma clara e sólida à sonoridade do projecto. Há, como o caso deste álbum, sempre mais algum elemento a acrescentar, mas também é verdade que não existe o efeito de novidade que gostaríamos. Em contrapartida «Back In The Doghouse» é um verdadeiro exemplo da experiência profissional e das capacidades de produção dos seus autores. Uma paródia onde a descontracção, o ambiente de confiança entre os elementos e a escrita criativa tornam-se a mais valias que permitem que toda a operação não se perca em futilidades conceptuais ou em facilidades linguísticas.
Coerência e consistência acabam por assegurar a sobrevivência de uma obra que já teve melhores tempos para ver a luz do dia. Não estará deslocado do tempo por completo, mas o terreno fértil do broken beat começou a revelar algumas dificuldades e limitações. «Back In The Doghouse» não revitaliza o género, mas essa também não deverá ter sido a prioridade destes senhores, que essencialmente criaram pelo prazer que têm em estar no estúdio e pela honra de explorarem --á sua maneira-- o rico filão que é a música negra.
VIDEO
BUGZ IN THE ATTICEis o clip de 'Move Aside', o tema de apresentação do álbum de estreia dos Bugz in The Attic.
LINKS:
http://www.bugzintheattic.co.uk
http://www.myspace.com/bugzintheattic