OUTKAST IDLEWILD
Por vezes não há remédio que salve um projecto da doença. E por vezes mais vale admitir que o fim é a melhor solução. É certo que um "ouvinte-médico" com boa formação e eticamente firme jamais desistiria do seu paciente, mas outros prefeririam o fim rápido e indolor quando perante uma doença sem cura.
Os Outkast atingiram um impasse conceptual quando em 2003 editaram «Speakerboxxx/The Love Below», o seu derradeiro álbum enquanto grupo. É irónico que a solução encontada na altura tenha sido na verdade dois álbuns a solo sobe um rótulo artistico. Dois registos distintos que reflectiam a personalidade dos seus autores e as suas orientações estéticas. Daí em diante nada mais havia a fazer para remediar a opção conceptual. À muito que Big Boi e Andre 3000 andavam em desacordo e «Speakerboxxx/The Love Below» provou que o trabalho em equipa tinha os dias contados.
Com o sucesso do quinto álbum – especialmente de ‘Hey Ya!’ –, e do consequente reconhecimento nos Grammy, a dupla entendeu prolongar a agonia do trabalho criativo em conjunto e editar «Idlewild», uma pseudo-banda-sonora para um suposto filme com o mesmo nome.
A própria capa sugere algumas ideias de separação que serão confirmadas no interior… na música, propriamente dita. Enquanto Big Boy, envergando um sumptuoso casaco de peles, segura o microfone – estilo anos 30 – aguardando a música para por os seus dotes de MC em prática; Andre 3000, sentado ao piano, mostra-se humildemente concentrado no trabalho de composição. Apesar das qualidades do rap de Big, seria na composição que supostamente deveria estar toda a esperança na operação «Idlewild». Algo que desta vez também falhou para Andre, apesar do interesse de alguns temas soulful por si produzidos.
Em «Idlewild» ambos dão a impressão de competição entre si. Todo o trabalho apresentado orbíta em torno de um conceito de gangsta-rap versão anos 30, no entanto apenas os temas de Andre 3000 têm a consistência que permite as reminiscências.
Por boa vontade que haja, a ideia que fica de «Idlewild» é que é um disco confuso, discúlo, vadio (como o título sugere), perdido entre o conceito e uma luta de personalidades. E isso transparece logo nos primeiros temas. A música é bem produzida mas a confusão de ideias e o longo alinhamento do álbum cria uma ideia de inconsistência estética que deixa o ouvinte indeciso entre “o peixe” e a “carne”.
Os OutKast nunca se repetiram e em cinco álbuns editados desde 1994, sempre superaram-se a si mesmos. Isto aconteceu enquanto trabalharam em equipa, enquanto dois espíritos unidos por uma causa empenhavam-se na concretização de ideias. Hoje em dia, duas almas desavindas, que lutam por causas diferentes, tornaram estéril o campo de acção virtuoso outrora chamado OutKast. E para essa doença não há cura!