FUJIYA + MIYAGI
TRANSPARANT THINGS
Começamos por ouvir um sussurro "Fujiya... Miyagi... Fujiya... Miyagi... Fujiya... Miyagi". A pop irrompe e não nos larga mais durante 38 minutos. Sim, porque de pop se trata na realidade e se a expressão usada com banalidade para definir música de cariz popular, light e de consumo rápido anda, nos dias que correm, na rua da amargura, a culpa será exclusivamente dos protagonistas que lhe dão a cara. Quase todos! No presente a comunidade debate-se com a necessidade de redefinir a pop, o seu significado e aquilo que representa. O medo em torno da expressão alargou-se ao ponto dos projectos que se movimentam na área preferirem outras expressões, designações ou mesmo procurarem novas nomenclaturas.
Os Fujiya + Miyagi, constituído por David Best, Steve Lewis e Matt Hainsby, sabem o que fazem e, apesar de nunca se assumirem como projecto pop, soam tão pop como Can, Happy Mondays, Alabama 3, Kraftwerk, Talking Heads ou Brian Eno. O Krautrock poderá ser a etiqueta especifica para designar com maior exactidão a sonoridade de «Transparent Things», mas pop é a expressão que prefiro utilizar com os amigos. Apesar de boa parte deles não virem a concordar. É um risco a correr!
"Radiohead encontra Neu! com um toque de sofisticação... Excepcional!", comenta Trevor Jackson, "O som deles é superespecial", remata Tiga. Tudo verdade. Estamos perante um trabalho que força o uso de alguns adjectivos positivos. Começamos pelo invulgar grafismo minimalista concebido por Richard Robinson, designer da Output Recordings e os Soulwax entre outros. Depois constatamos que na realidade nenhum dos senhores aqui envolvidos nasceu no Japão ou tem nacionalidade nipónica. Uma graçola, dizem...
A música deve muito às influências musicais de David Best, Steve Lewis e Matt Hainsby: Serge Gainsbourg, Neu!, Can, Captain Beefheart, Sly & the Family Stone, David Bowie, Roxy Music, The Fall, MF Doom, Ramases, The Tinklers, Aphex Twin, Devendra Banhart ou Brian Eno. É como se todas estas entidades espirituais vivessem dentro do mesmo disco e todos eles contribuíssem para esta sonoridade moderna, descomplexada. A eloquência é um trunfo que acaba por triunfar de forma arrebatadora. Por vezes parece música feita por adolescentes, com algum toque de ingenuidade e pureza, jovens que descobrem agora uma forma de homenagear os seus heróis. Na verdade, e repito, os rapazes sabem o que fazem.
David Best poderá não ser o melhor vocalista do mundo, mas os seus sussurros sóbrios, atribuem a toda a música uma ideia indubitávelmente firme e confiante. Transparentes e seguros de si, os Fujiya + Miyagi erguem o monumento pop do ano. E digo sem receio de utilizar o rótulo mais indesejado deste milénio.