QUANTIC
AN ANNOUNCEMENT TO ANSWER
Acreditarmos na improbabilidade de erros acontecerem será certamente um erro só por si. Se é verdade que errar é humano e que muita das vezes do engano nasce a solução para o problema, certo também será que uma vez o erro cometido, jamais poderemos voltar a trás. Acreditar no génio pondo de parte a sua falibilidade, poderá vir ser motivo de desilusão mais cedo ou mais tarde.
Na análise de uma obra, o importante será ser-se equilibrado, mantendo a harmonia entre a subjectividade e a objectividade de forma a crítica ser ponderada e essencialmente o mais justa possível. E ter consciência que os melhores também erram.
Á muito que Will Holland revelou o seu talento, arte e engenho na elaboração da sua música. Produtor habilidoso, procura em todos os projectos em que está envolvido uma metodologia que permita confluir para uma linguagem única diversas tipologias com origem nas mais diversas zonas do globo. Um dos mais relevantes talentos de Will será essa capacidade de sincretismo, de síntese, apreendendo o melhor de dois mundos, fundando assim o seu próprio universo sonoro. A agudeza de espírito tem-lhe valido as mais diversas reacções por todo o mundo, tendo revelando com naturalidade o engenho de músico que nasceu na era do sampler, mas que tem sabido explorar a dinâmica que só o contacto real com os instrumentos e o palco pode proporcionar.
Envolvido em diversos projectos, mas basicamente reconhecido pelos seus projectos Quantic – os originais e remisturas – e Quantic Soul Orchestra, a verdade é que a sua música tem estado entre o melhor que se tem produzido nestes últimos dez anos. Depois das experiências em estúdio de «The 5th Exotic» e «Apricot Morning» enquanto Quantic, decidiu dar vida á sua música em palco. O gosto pelo funk e pela soul, impresso em todos os seus registos, permitiu-lhe a observação directa das reacções do público à sua música, à sua dinâmica de palco e perceber a grande diferença entre tocar a sua música num set e comover uma multidão num concerto de sala. A experiência permitiu uma ligeira mudança na forma de compor e produzir a sua música, bem patente na forma mais espontânea a que soava a amalgama «Mishaps Happening» de 2003.
Depois de mais um álbum como Quantic Soul Orchesta («Pushin' On» - 2005) e de uma antologia de remisturas e lados B («One Off’s Remixes and B Sides» - 2006), chega aos escaparates o quarto álbum enquanto Quantic: «An Announcement to Answer».
Todos reconhecemos em Will Holand a capacidade de trabalho e a qualidade desse trabalho. A recompensa e a dignidade pelo labor é indiscutível e não deverá ser agora que, perante um pequeno deslize, seja posto em causa toda uma vida de dedicação á causa soul-jazz-funk modernista.
O próprio título deixa algumas pistas -- subretudo incertezas -- sobre o conteúdo do disco: um anúncio a responder! Essencialmente são dúvidas e interrogações que ficam por responder quando nos apercebemos que o dinamismo criativo perdeu-se no processo de produção ou que aparentemente não existe uma concepção por detrás deste disco. O que para um artista como este é muito estranho. «An Announcement to Answer» mais parece uma compilação rápida de temas perdidos e nunca editados do que um álbum propriamente dito. A música é sem dúvida quantificada por Quantic, o traço de autor confirma-o. Mas tudo soa incompleto e insípido. Como se faltasse um tempero próprio que permitisse distinguir este disco dos do passado…
O erro, que esperemos que seja único, está aí! Uma obra inconsequente, insossa e com pouca história para contar, que revela um Quantic cansado e pouco inspirado. O repouso é agora obrigatório!