NOITE NO SUDOESTE
À última hora lá decidi sair de casa. Destino: Herdade da Casa Branca, Zambujeira do Mar. O dia estava perfeito para qualquer actividade, qualquer uma que fosse divertida. Confesso não ser grande apreciador de festivais, especialmente daqueles em que tenho de me deslocar muitos quilómetros... mas lá perdi a cabeça e meti-me no carro. No fundo este período estival é propício a divertimentos porta fora...
Felizmente a viagem correu bem e na minha sincera opinião também o festival TMN Sudoeste 2006 -- pelo menos no único dia em que estive presente (5 de Agosto). As organizações são actualmente muito profissionais. O passado foi ensinando a preparar detalhadamente todos os aspectos, e num festival que, além de comemorar o 10º aniversário, pretende ser um dos melhores e mais consagrados do país, toda a logística teria de ser cuidadosamente arquitectada de forma a proporcionar as melhores comodidades aos visitantes.
Há quem esteja a por em causa o actual modelo dos principais festivais em Portugal. É certo que o grande número de eventos não tem trazido a qualidade de cartaz desejada. Além de Portugal não ser para muitos projectos musicais um atrativo ou um ponto estratégico na divulgação live do seu som, é verdade que as organizações, como a Música no Coração, têm se esforçado para enriquecer os cartazes com nomes soantes e assim atrair a juventude. Outro elemento importante para perceber a mecânica dos festivais é o facto de muita gente se deslocar a eventos como o Sudoeste, não pela música, mas sim pelo evento existir... Poucos terão sido os que saíram de casa de propósito para ver Madness ou os Daft Punk, muitos deslocaram-se simplesmente para acampar com os amigos, beber uns copos, ouvir música e vadiar sem que os pais incomodassem com discursos paternalistas ou cortassem as "rédeas" no mínimo sinal de excesso. No fundo, muita juventude desloca-se para estas zonas simplesmente em busca de liberdade! Não querendo dizer que não haja muitos pais, os mais liberais, que não tenham qualquer problema em deslocar-se com os filhos e com eles divertirem-se (como constatei).
Confesso que o motivo pelo qual eu saí de casa foi para ver a actuação dos Daft Punk. Primeiro nunca tinham-se deslocado ao nosso país; segundo, sempre tive curiosidade em viver ao vivo a música do duo; terceiro, sempre tiveram fama de proporcionarem bons espetáculos. As imagens dos concertos em Coachella e Barcelona, (publicados mais a baixo) adoçaram-me ainda mais a "língua"...
O calor da tarde obrigou-me a uma saída tardia. Eram 18 horas quando entrei no carro, e com um amigo como companhia, arranquei. No porta luvas lá iam os três discos dos Daft Punk --oportunidade para recordar os trabalhos de estúdio -- e mais três ou quatro CD's. A viagem foi calma e sem grandes pressas. A paragem foi obrigatória em Vila Nova de Milfontes para uma boa janta, já que a noite ia ser longa. Cheguei ao local, o estacionamento não foi difícil. Seguiu-se a compra do bilhete e a entrada no recinto. Infelizmente o primeiro contacto foi a lixarada espalhada por todo o lado. Era restos de pizza, caixas de hamburgers do McDonalds e muitos copos de cerveja de plástico -- que, para quem se desse ao trabalho de os apanhar, podiam ser convertidos em pontos que por sua vez podiam dar cerveja. Evidentemente, uma falha logistica: poucos recipintes para o lixo
Feito o reconhecimento ao recinto, veio a música. Skin, eficiente, aqueceu finalmente o local com boas guitarradas. Os Madness, inócuos, tentaram convencer o público com um ska-pop-rock tipicamente anos 80 -- tentando justificar a sua primeira visita ao nosso país -- acabando por dar razão a quem defende que uma vez um grupo morto, já mais deverá voltar à vida. Não foram maus de todo, mas dispensavam-se! Depois de 30 minutos de preparativos de palco, surgiram finalmente os Daft Punk às 01h45. Notava-se a expectativa do público -- e a minha! Podia ser um sucesso ou um fracasso...
Arrancaram lentamente com efeitos sonoros de vocoder até 'Robot Rock' explodir... O palco era simplesmente fantástico. Visto ao vivo, não tinha nada que enganar: o jogo de luzes era imponente! A música surpreendeu pela forma eficiente como obrigou a mudança cénica constante. O duo lá estava, discreto e de máscaras postas, quase no topo da pirâmide -- ao certo o que lá faziam, ninguém sabe --, a controlar o público? Tentando hipnotiza-lo com efeitos geométricos? ... e a música sempre, sempre a mudar e a "bombar"! A preocupação dos franceses era evitar a todo custo o aborrecimento... e conseguiram. Os exitos lá foram aparecendo fundidos com temas mais obscuros da discografia. Todos as músicas ganharam nova texturas, dimensão... e o cenário sempre em constante evolução. Daft Punk convenceram? Sem dúvidas. Até os que se preparavam para os ridicularizar renderam-se perante tal espectáculo...
Apesar dos preços exagerados, a ida valeu a pena. A noite foi muito agradável. Terminou às 03h30. Pena os Buraka Som Sistema terem actuado praticamente em simultâneo com os Daft Punk. Como não era possível estar em dois sítios ao mesmo tempo, a curiosidade de ver os Daft Punk foi mais fortre, afinal foram o motivo principal de minha ida ao Sudoeste. Não me arrependi! Para o ano há mais!